segunda-feira, 5 de maio de 2008

Carnaval 2008 - ENREDO

“CORAÇÕES UNIDOS: A VIAGEM DE CAMÕES”

As armas e os barões assinalados...

Luís Vaz de Camões: grande português! De vida atribulada, um viajante. Se é incerto o seu local de nascimento (Lisboa?), é certo que estudou em Coimbra e que levou uma vida de aventura: amores, batalhas, paixões, prisões. Obrigado a engajar-se no serviço militar ultramarino, partiu para a Índia e para a China. Goa, Macau... Um naufrágio na foz do Mecom. A amada Dinamene morre; os originais de Os Lusíadas são salvos.

A Corações Unidos não falará da vida pessoal de Camões. Falará da sua viagem pelo nascente mundo de língua portuguesa e do seu maior legado: Os Lusíadas, síntese alegórica da história de Portugal e imortal declaração de amor.

Que da Ocidental praia Lusitana...

O mar. O além-mar. No horizonte, as esperanças de milhões de portugueses. Renascença, época de inovações tecnológicas. Portugal resplandece Império que dizem predestinado a reluzir glorioso como outrora reluziram as civilizações assíria, persa, grega e romana. Nas naus comandadas por Vasco da Gama, os sonhos de D. Manuel.

Navegar é preciso!

O céu. O espaço sideral. Nos astros, os deuses confabulam reunidos em convenção. Vênus protege os lusíadas; Baco opõe-se à empreitada. No palácio de Netuno, nas profundezas submarinas, o acordo é selado. Guerra.

Por mares nunca de antes navegados...

Em meio à viagem, a história de Portugal. Inês de Castro, que depois de morta foi rainha. Os brasões, as casos reais. As duras críticas de um velho, o Velho do Restelo, que por todos se fez ouvir: Que famas lhe prometerás? Que histórias? Que triunfos? Que palmas? Que vitórias? A censura dirigida a Vasco: seria ele um novo Prometeu, Ícaro, Faetonte? Ousado, sim. E o respeito do mar português, algumas lágrimas são necessárias... Lágrimas de amor: chorou o gigante, Adamastor, condenado a viver enquanto rocha, o guardião do Cabo das Tormentas. Ultrapassado: a boa esperança.

Passaram ainda além da Taprobana...

Moçambique, Mombaça, Melinde. Depois de traições, perigos e doenças, a grande tempestade. Éolo, filho de Netuno, despeja a sua fúria sobre os portugueses. Vênus, porém, os salva da derrocada. No horizonte, Calecut. As Índias do Samorim: especiarias, luxo, riqueza. O exotismo, as maravilhas, o intercâmbio cultural. O triunfo de um povo, a conquista dos mares, o retorno.

Em perigos e guerras esforçados...

Cansados, recebem um presente. As flechas de Cupido, Nereidas e Ninfas, vinho, delícias, natureza sem igual: a Ilha dos Amores, para o deleite de Leonardi e de tantos outros. No topo da mais alta montanha, Tétis mostra o universo a Vasco; os astros, a Terra, as futuras conquistas, o planeta português, por sobre o qual o sol brilharia eternamente. Abria-se, luminosamente, a máquina do mundo.

Mais do que prometia a força humana...

Dentre as futuras conquistas, o Brasil. Martim Afonso de Sousa, fundador de São Vicente, é alçado ao posto de herói lusíada. Amigo do cacique Tibiriçá, luta contra os piratas franceses e ergue a primeira fortificação brasileira, o Forte Sant’Iago, em Bertioga. Tem início a colonização efetiva da Terra Brasilis. Tupinambás, Tamoios, brancos, negros... A mistura.

E entre gente remota edificaram...

Dom Sebastião, a quem Os Lusíadas fora dedicado, desaparece em Alcácer Quibir. Com ele, desaparecem também as certezas de um povo. A ausência na alma, uma nova tempestade. O Império naufragava, assim como naufraga Camões. E morre o poeta, no mesmo dia em que os exércitos espanhóis invadem Portugal, dando início à União Ibérica.

Novo Reino que tanto sublimaram.

O sonho, porém, renasce. Não apenas o mito de Dom Sebastião, mas a esperança em sentido geral, o crer em algo, o acreditar. No Brasil, renasce a cada ano a esperança de que um novo reino seja construído, um reino em que todos tenham espaço e voz, em que todos sejam heróis. Nos dias de folia, esse reino é governado por Momo. E se hoje vivemos o Novo Renascimento, uma nova era de inovações tecnológicas, também renasce a festa de Momo, na seara virtual. O samba, fruto da integração entre diferentes povos, invade portentoso a web. Navega-se na Internet: não mais argonautas, internautas. E um outro Camões, Marcelo, que tem em seu nome o limiar entre o mar e o céu – o horizonte, portanto -, funda a Corações Unidos, a maior das suas viagens. Enquanto isso, o sol continua a não se pôr. A saga dos lusíadas permanece.

Brasil e Portugal: corações unidos, eternamente!

Leonardo Augusto e Raffah
Carnavalescos

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